" Entre a cumplicidade silenciosa e a narrativa revisionista, a emissora enfrenta até hoje questionamentos sobre seu papel durante o regime militar brasileiro."
A Rede Globo, maior empresa de comunicação do Brasil, carrega consigo um legado controverso, especialmente em relação à sua atuação durante o período da Ditadura Militar (1964-1985). Apesar de sua inegável influência na cultura e no cotidiano do país, a emissora enfrenta constantes debates sobre seu papel durante aqueles anos, com acusações que vão desde a cumplicidade com o regime até a manipulação da informação para silenciar opositores.
A polêmica central reside na suposta omissão da Globo em denunciar as violações de direitos humanos cometidas pelo regime. Diversos historiadores e pesquisadores argumentam que a emissora, em busca da manutenção de sua licença de funcionamento e da preservação de seus interesses comerciais, optou por uma postura de autocensura, minimizando ou ignorando completamente os atos de violência, tortura e censura praticados pela ditadura. Programas de entretenimento e a ênfase em notícias leves são apontados como estratégias para desviar o foco da população das atrocidades cometidas.
A crítica vai além da simples omissão. Existe a acusação de que a Globo teria colaborado ativamente com a ditadura, fornecendo informações e contribuindo para a construção de uma narrativa oficial que buscava legitimar o regime. A manipulação da informação, a censura interna e a pressão sobre jornalistas são exemplos frequentemente citados.
Por outro lado, a defesa da Globo aponta para o contexto de forte repressão vivido durante a ditadura, argumentando que a emissora agiu com cautela para proteger seus funcionários e preservar sua própria sobrevivência. Ressalta-se também a cobertura de alguns eventos considerados relevantes pela emissora, embora, para muitos críticos, tais coberturas tenham sido insuficientes e até mesmo superficiais, sem o devido aprofundamento necessário para denunciar as arbitrariedades do regime.
A falta de transparência da Globo em relação a seus arquivos históricos, bem como a dificuldade de acesso a documentos internos, contribui para alimentar as suspeitas e dificulta a construção de uma narrativa completa e imparcial sobre seu papel na história brasileira. Até hoje, o debate sobre a responsabilidade da Globo durante a ditadura permanece aberto e acirrado, com implicações importantes para a compreensão do passado e para a construção de uma sociedade mais justa e democrática. A revisão crítica desse período e a busca pela verdade histórica são imprescindíveis para que a memória da ditadura não seja apagada, e para que a postura de grandes veículos de comunicação em momentos de crise política seja constantemente questionada e debatida.
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